Tarantino e Bruce Lee – Tranquilo e Infalível como… Brad Pitt?
Tarantino e Bruce Lee
A polêmica está instaurada!
Desde o lançamento do trailer de “Once a upon a time in Hollywood”, no Brasil, “Era uma vez em Hollywood” do diretor Quentin Tarantino, soube-se que Bruce Lee estaria sendo representado no filme. A questão era: como o subversivo diretor iria apresentar o grande ídolo das artes marciais?
Com o lançamento do filme, as críticas sobre como Bruce Lee foi retratado por Tarantino foram ganhando força principalmente no meio das artes marciais.
Talvez a Perspectiva Kung Fu possa mostrar algo a mais sobre o que este diretor americano quis mostrar para nós com relação ao “Bruce Lee” por ele criado.
Agora vamos ao tema de hoje, pois será sobre esta polêmica envolvendo meu si baak Bruce Lee que discutirei com você neste nosso encontro na Vida Kung Fu.
No dia 15 de agosto de 2019 foi lançado no Brasil o nono filme de Quentin Tarantino, Once a Upon a Time in… Hollywood.
Para quem conhece o trabalho do diretor sabe o quanto ele construiu sua filmografia influenciada pelos filmes de kung fu, particularmente os produzidos pela Shaw Brothers.
Dai a sua homenagem ao gênero, quando dirigiu Kill Bill Volumes 1 e 2. Nesta obra ele já apresentou sua versão bem transgressora de personagens importantes das artes marciais como Hattori Hanzo e Pai Mei.
Desta vez, ele faz isso com o maior ícone das Artes Marciais.
De pronto, Shannon Lee, CEO da Bruce Lee Foundation e filha do ícone, manifestou-se a respeito. Seu protesto foi reforçado por Daniel Arca Inosanto e Ferdinand Lewis Alcindor Jr, mais conhecido como Kareem Abdul Jabbar, ambos amigos e alunos da lenda das Artes Marciais.
Mas tudo isso já foi devidamente divulgado pela mídia em geral.
O que me surpreendeu foi a clareza com a qual Tarantino enxerga a diferença entre o combate real e o combate simbólico.
Para entender melhor este ponto, é importante identificar a visão do próprio Tarantino para entender a construção do personagem interpretado por Brad Pitt, Cliff Booth:
“Cliff é um boina verde. Ele matou muitos homens na Segunda Guerra Mundial em combate corpo a corpo. Ele é um matador.”
Neste filme, Tarantino utilizou o seu Bruce Lee para construir Cliff Booth. Ele fez de Cliff Booth, o guerreiro que Bruce Lee idealizava. Isso vai ficará mais claro na sequência da sua fala.
“Ele é um guerreiro. Ele é uma pessoa de combate. Então, se Cliff lutasse com Bruce Lee em um torneio de artes marciais no Madison Square Garden, Bruce Lee o mataria, mas se Cliff e Bruce Lee lutassem nas selvas das Filipinas numa luta corpo a corpo, Cliff mataria ele.”
Como o cineasta afirmou inicialmente, Cliff Booth “é um personagem fictício que poderia derrotar Bruce Lee.”
Como é possível perceber, Tarantino criou Cliff Booth, como a personificação plena do combate real, uma busca idealizada pelo próprio verdadeiro Bruce Lee.
Mas o que o diretor e roteirista faz aqui é apresentar um Bruce Lee ainda confuso entre a idealização do combate real no contexto do combate simbólico, veja o que ele diz: “Eu admiro Cassius Clay. De verdade. No esporte dele tem o elemento do verdadeiro combate.
Quando Cassius Clay encontra Sonny Liston no ringue, isso é um combate. Dois homens tentando se matar neste momento. Se você não bate nele, ele mata você. Isso está além do esporte. São dois guerreiros envolvidos em combate. É isso que eu admiro… Eles fazem o que precisam para vencer.
Eles liberam o máximo de castigo necessário para derrotar o outro cara. O que eu faço para ganhar nos torneios de artes marciais é o mesmo que eles fazem para ganhar. Eu libero todo meu poder. Eu mato pessoas.”
É evidente que este discurso é de alguém que quer elevar o combate simbólico ao seu limite extremo. Ele é confuso porque mistura o combate simbólico dos torneios de artes marciais com o combate real que leva a morte. Aqui, o Bruce Lee de Tarantino representa a confusão comum entre os artistas marciais desta época e dos dias de hoje. Aqui também a autoconfiança avança para a arrogância, que sempre é ingênua.
O sarcasmo do diretor Tarantino foi escrever estas linhas para serem ditas por seu Bruce Lee.
Como ele próprio disse “Há um toque de parodia ai”.
A paródia é uma releitura cômica de alguma manifestação original, que frequentemente utiliza ironia e deboche. Ainda que pareça com o original, leva a sentidos diferentes.
O lamentável desta paródia é que, a despeito do ator Mike Moh ter feito uma boa representação dos seus maneirismos e de sua forma de falar, não conseguiu o mesmo resultado na sua fisicalidade. Os gestos ficaram caricatos e o tempo dos movimentos descompassados com relação ao antagonista Cliff Booth.
As risadas ouvidas em várias sessões do filme desta figura caricata de Bruce Lee, lembrou-me tudo de ruim que ele próprio tentou evitar para sair do estereótipo associado ao asiático ridicularizado.
Mas esta é a marca de Tarantino, um roteirista que pode escrever linhas inteligentes, faladas de modo caricato por personagens reais ou não. Está é a sua forma de arte.
Concluindo: o Cliff Booth de Quentin Tarantino é o Bruce Lee de Caetano Veloso: “Tranquilo e infalível”.
E você?
O que achou desta construção polêmica?
Como você distingue o combate real do combate simbólico?
O combate simbólico é um combate de mentirinha ou algo mais?
Contribua com os seus comentários.
Um forte abraço e até o nosso próximo encontro na Vida Kung Fu.
Tag:aprender Kung Fu, Bruce Lee, kung fu