Sete Samurais – O Preço da Incapacidade de Ver o Óbvio
Sete Samurais – O Preço da Incapacidade de Ver o Óbvio
Nem me lembro quando foi a primeira vez que assisti este filme produzido em 1954.
Lembro-me apenas que foi na televisão, pois naquela época ainda não havia vídeo, dvd ou streaming.
Mas o que mais me marcou naquela ocasião foi uma cena que quero compartilhar com você.
É a cena entre Kyuzo, interpretado por Seiji Miyaguchi, considerado o mais habilidoso espadachim do grupo dos Sete Samurais, e um adversário que era um lutador de rua.
A diferença de entendimento do que era vitória ou derrota, do que era real ou não, era o que estava em questão. De fato, levaram-se muitas décadas para eu entender a profundidade daquela cena que tanto me atraiu. É este tipo de entendimento que irá evitar que cada um de nós pague o preço de não ter a capacidade de enxergar o óbvio.
No vídeo de hoje irei discutir sobre a capacidade de entender como o combate simbólico é transposto para o combate real e vice-versa nesse nosso encontro na Vida Kung Fu.
A cena é clássica: dois homens em duelo com espadas de madeira. Cada um elegeu uma guarda que mostra sua característica de combate. O artista marcial com uma guarda baixa convida o seu adversário a atacar. Sua postura de acolher o ataque do outro já diz muito. O lutador de rua o faz ferozmente, partindo de uma guarda alta.
Neste momento, ambos se golpeiam.
Mas a interpretação de ambos sobre a situação é divergente. O lutador de rua acha que houve um empate. O artista marcial acha que venceu.
Neste momento, fica evidente o desnível de maturidade marcial de ambos.
O lutador de rua, experiente no limite da sua atuação, consegue extrair pouco aprendizado da experiência que viveu. É aquele que no duelo quer apenas golpear primeiro. Desconsiderando que a espada de madeira representa uma espada de metal e como tal deve ser empunhada apropriadamente para alcançar o efeito desejado. Não é apenas uma questão de acertar antes, mas sim de acertar bem. Ele acha que empatou porque ignora os limites do simbólico. Ele é tosco, pois falta refinamento para este entendimento.
Já o artista marcial sabe expandir do simbólico para o real. Usa a espada de madeira por respeito ao adversário. Mas a empunha de modo como se usasse uma espada de metal e atua para o refinamento pessoal. Ele não precisa provar para si através das vias de fato. Ele sabe que venceu por ter consciência dessa expansão.
Mas aqui encontramos um terceiro elemento. E este elemento deve ser criticado e identificado. É o ignorante que se esconde por detrás do artista marcial.
Ele alega que não precisa comparar com o outro, mas não porque têm consciência da sua ignorância. E sim por ter medo de se confrontar com ela.
Ele lida com o simbólico, não porque sabe expandir para o real. Mas porque tem medo lidar com o real. Para este terceiro elemento, o combate simbólico é um refúgio e não processo liberador.
Junto a este terceiro elemento, aparece um quarto. É o ingênuo que acha que por ter tido alguma experiência com espadas de madeira, pode lidar com espadas de metal. É aquele com experiência deturpada de combate simbólico, que acha que tem condições de lidar com o combate real.
Penso que mesmo no período retratado no filme ou numa sociedade calcada em valores guerreiros, ainda é possível existir todos estes elementos, já que eles fazem parte de um longo processo de evolução.
No entanto, é no âmbito da internet que encontramos uma infestação de valentes virtuais. Ignorantes que se sentem no direito de desafiar de forma desrespeitosa o outro, sem sofrer as consequências da usurpação.
Este é o nosso tempo e temos que acolhê-lo. Afinal, esta mesma internet é um canal de comunicação espetacular que nos dá a oportunidade de conversar com você que busca entender melhor a vida que está vivendo através do chamamos de Vida Kung Fu.
E você?
Já identificou os ignorantes e os ingênuos do “Combate Real”?
E os farsantes do “Combate Simbólico”?
Quais seriam os pontos a serem analisados para identificarmos um ou outro?
O que você considera ser um artista marcial?
Deixe nos comentários.
Um forte abraço e até o nosso próximo encontro na Vida Kung Fu.