A relação do Sam Faat e o Sistema de Kung Fu
A relação do Sam Faat e o sistema de Kung Fu
Como já disse em outro vídeo, para o Professor François Jullien, docente da Université Paris Diderot, Sam Faat é o modo intuitivo de transmitir de uma mente para outra. Essa explicação reforça a ideia do Patriarca Moy Yat que esse processo é o mais apropriado para proporcionar a alguém o aprendizado do Kung Fu. Lembro-me que ele reservava grande parte de seu dia para receber não só seus alunos, mas também alunos de seus alunos… e alunos de alunos de seus alunos. Quando vinham, costumava tratá-los como seus próprios filhos e dizia que ensinaria de uma maneira que não percebessem que estariam aprendendo.
Ele também nos deixava confusos quando falava das vantagens do Sam Faat ao afirmar: “assim, você nunca esquecerá aquilo que você aprendeu, mesmo que não tenha percebido quando isso aconteceu”.
É a reflexão sobre a necessidade do sistema de Kung Fu para o desenvolvimento do Sam Faat que quero aprofundar com você nesta minha jornada na Vida Kung Fu.
Em sua entrevista ao Projeto “A Bordo do Junco Vermelho”, Professor Jullien alertou-nos que o Sam Faat é fundamental para que não se conceitualize a experiência vivida, evitando um bloqueio da sua apreciação através do intelecto. Caso contrário, o resultado configurado deixaria de ser Kung Fu. Na ocasião, ele falou algo que considerei relevante: “Sam Faat é muito importante porque usa a intuição no processo. Aqui o Sam Faat se une ao Kung Fu”.
Ao dizer isso, me direciono mais uma vez à fala do Patriarca Moy Yat: “Kung Fu sem sistema não é Kung Fu”. Para desenvolver o Kung Fu é preciso de um sistema que dê suporte ao Sam Faat. Sem sistema, o Sam Faat se fragilizará e não terá condições de promover as condicionantes para o desenvolvimento do Kung Fu de um discípulo.
Um sistema de Kung Fu é indicativo. É um marco para saber como se orientar. É uma referência, mas não é a lição em si mesmo. O importante é que forneça várias referências para a mente, mas não tem necessariamente em si mesmo um sentido. E, embora não seja suficiente, é essencial para a evolução do Kung Fu do praticante.
Professor Jullien lembrou-nos que na obra Sunzi, o primeiro capítulo do livro ensina a fazer listas para encontrar e avaliar todos os aspectos diversos da situação. Esse é um bom exemplo de que há uma grande arte da lista na China, através da qual pode-se sentir a noção de variação, mostrando como a situação é diversificada e como o equilíbrio e a regulação apareceram dentro dessas diferenças.
Por isso que o sistema de Kung Fu é composto por listagens. Um praticante de Kung Fu pode tomar consciência da possibilidade que tem de atuar na variedade. Ao exercer sua inteligência para explorar a variação de uma situação, dentro dos limites de cada domínio, seu kung fu é manifestado através do Sam Faat.
Em um sistema de Kung Fu, as listagens são elaboradas com muita habilidade. Elas são hábeis porque seus elementos se correspondem em diversas ordens possíveis, de acordo com o desenvolvimento do Kung Fu de cada praticante. A despeito de sua aparente heterogeneidade, é preciso entender como está relacionado. Desta forma, o sentido do domínio pode aparecer na maneira que a listagem está disposta. Como as etapas se respondem? Como elas introduzem uma reviravolta? Como continuar a ter a homogeneidade pela heterogeneidade? Essas perguntas são frutos da incitação do praticante de Kung Fu para que ele reflita com congruência.
Os mestres de Kung Fu aprenderam a acessar esse tipo de sistema de variação. Eles sabem como explorar e “saborear” cada domínio, porque tem a capacidade de perceber a ordem interna de uma listagem.
O entendimento dessa natureza de cada um dos domínios de um sistema de Kung Fu só pode ser saboreada quando é experienciada, já que cada uma das suas respectivas listagens tem sua própria ordem interna que é dinâmica e congruente.
Por esse motivo que um sistema de Kung Fu é um conjunto de domínios, representados por listagens, pois se fosse apresentado como um único domínio, o praticante se fixaria obrigatoriamente nele. É através da heterogeneidade dos domínios de um sistema de Kung Fu que se manifestará uma inteligência estratégica implícita, cujo ordenamento só será possível através do Sam Faat.
E você? Concorda com o Patriarca Moy Yat ao afirmar que um Kung Fu que depende de um sistema não é bom Kung Fu?
Como você acha que mestre de Kung Fu explora uma listagem de um sistema?
Qual o motivo de um sistema de Kung Fu ser também chamado de sistema de variação?
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Meu nome é Leo Imamura e quero continuar compartilhando com você a minha jornada na Vida Kung Fu.
Tag:aprender Kung Fu, kung fu