A importância de entender o que é um sistema de Kung Fu
A importância de entender o que é um sistema de Kung Fu
Quando iniciei minha jornada na Vida Kung Fu, muitos diziam que o Sistema Ving Tsun era um dos sistemas mais eficientes e velozes que existia. O Patriarca Moy Yat ficava contrariado com estas adjetivações fantasiosas. Ele dizia que era o praticante que era veloz ou eficiente e que todos os sistemas tinham o seu valor.
Hoje vemos as pessoas atribuindo qualidades equivalentes ao Jiu-jitsu ou ao Muay Thay por exemplo. E por outro lado, fazendo duras criticas ao sistema Ving Tsun. Mas por quais os motivos as pessoas não tem uma visão clara da distinção entre a pessoa e o sistema?
Para responder esta questão, é preciso esclarecermos o que é um sistema de Kung Fu.
O que quero compartilhar com você será sobre como foi a evolução do meu entendimento sobre um sistema de Kung Fu na minha jornada na Vida Kung Fu.
O Kung Fu foi notabilizado no seu sentido redutor, como menciona a Professora Anne Cheng, docente do Collège de France, que se refere ao gênero cinematográfico e as artes marciais. No entanto, quando me refiro ao Kung Fu, estou falando no seu sentido amplo que envolve a habilidade de viver melhor nossas vidas, consoante com a abordagem dos pensadores neo-confucionistas.
Portanto, o Kung Fu é uma habilidade da pessoa que pode ser desenvolvida através do Sam Faat, hoje chamado de Vida Kung Fu. Para tal desenvolvimento, é necessário um sistema de Kung Fu. Mas o que seria um sistema de Kung Fu?
Ao escrever “Kung Fu sem sistema, não é Kung Fu. Kung Fu que depende de um sistema, não é bom Kung Fu”, o Patriarca Moy Yat traduziu sistema como hai tung.
Mestre Leonardo Mordente, autor da obra O Livro de Pedra do Ving Tsun, esclarece que a palavra hai tung é tautológica, isto é, as ideias veiculadas por hai e por tung se equivalem e se reforçam. Assim, pode-se dizer que a ênfase em um hai tung, como bem representa a própria palavra, recai sobre a relevância das ligações, a conexão das partes, a constituição do todo, a suficiência do conjunto.
Por que penso que o entendimento deste tema, que foi tão importante para mim há 30 anos, ainda hoje é tão relevante?
O sinólogo François Jullien, docente da Université Paris Diderot, escreveu que, para o pensamento chinês, o único sistema possível é o da variação. Ao reconhecer a impossibilidade de modelizar o conflito, já que esse está mudando constantemente, a única construção possível para os chineses foi de um sistema das diferenças.
Portanto, a ideia central de um sistema chinês é inventariar, por meio de listagens, os recursos possíveis.
Observe que isso passa ao lado do conceito de aplicação, onde se busca aplicar a teoria na prática. Mais importante que a aplicação é a exploração de um movimento que é muito mais do que uma simples técnica.
Assim, quando estudamos um movimento, mais do que aperfeiçoarmos a sua mecânica, é essencial que estudemos o seu potencial de transformação. Por isso que prefiro não chamar de técnica, um movimento que compõe cada componente de um sistema. A técnica é operacional demais, construída para ser aplicada em casos bem específicos. Contudo, um combate é extremamente dinâmico, as mudanças são constantes e os movimentos precisam acompanhar este dinamismo.
Quero dar um exemplo para finalizar. Quando alguém diz que pratica Ving Tsun Kung Fu quer dizer que ele está desenvolvendo o seu Kung Fu por meio do Sistema Ving Tsun. Isso não quer dizer que ele representa o Sistema Ving Tsun. Aliás, ninguém poderia. Num combate entre sistemas, os contendores apenas manifestam o seu Kung Fu naquele momento especifico. Num futuro, o resultado poderia ser diferente, pois como eu já disse anteriormente: tudo é dinâmico.
Não esqueça de deixar seus comentários sobre o que achou do assunto, eles são muito importantes para nós. Tenha certeza que eu leio todos eles.
Meu nome é Leo Imamura e quero continuar compartilhando com você sobre minha jornada na Vida Kung Fu. Até o nosso próximo encontro.
Tag:kung fu, Sistema Ving Tsun